tag:blogger.com,1999:blog-20231483395159957752024-02-20T14:56:46.103-03:00aspas entre aspasI.Medeiroshttp://www.blogger.com/profile/18083889096041881211noreply@blogger.comBlogger33125tag:blogger.com,1999:blog-2023148339515995775.post-6929096721402678802012-06-05T09:38:00.000-03:002012-06-05T09:38:09.055-03:00Glauco Mattoso<span style="font-size: medium;">Quem diabo é deus?</span><br />
<br />
<span style="font-size: medium;">deus não é a antimatéria
</span><br />
<span style="font-size: medium;">deus não é o anticristo
</span><br />
<span style="font-size: medium;">deus não é o caos
</span><br />
<span style="font-size: medium;">deus não é o cosmo
</span><br />
<span style="font-size: medium;">não é um campo magnético
</span><br />
<span style="font-size: medium;">não é um corpo magnífico
</span><br />
<span style="font-size: medium;">não é a voz do povo
</span><br />
<span style="font-size: medium;">não é a paz do papa
</span><br />
<span style="font-size: medium;">deus não é um sapo horrendo
</span><br />
<span style="font-size: medium;">do lodo do brejo nojento
</span><br />
<span style="font-size: medium;">nem o excremento fedorento
</span><br />
<span style="font-size: medium;">mas podia ser
</span><br />
<span style="font-size: medium;">se não fosse aquele garoto
</span><br />
<span style="font-size: medium;">que me deflora a boca
</span><br />
<span style="font-size: medium;">e me degusta a sola
</span><br />
<span style="font-size: medium;">quando trepa comigo.
</span>I.Medeiroshttp://www.blogger.com/profile/18083889096041881211noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2023148339515995775.post-48567301994984452612012-03-12T11:49:00.000-03:002012-03-12T11:49:52.065-03:00Bertolt Brecht<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span lang="PT" style="color: #660000; font-family: Verdana; font-size: 8pt;">O uso das palavras obscenas</span></div><div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><br />
</div><div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span lang="PT" style="color: #660000; font-family: Verdana; font-size: 8pt;">Desmedido eu que vivo com medida</span></div><div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span lang="PT" style="color: #660000; font-family: Verdana; font-size: 8pt;">Amigos, deixai-me que vos explique</span></div><div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span lang="PT" style="color: #660000; font-family: Verdana; font-size: 8pt;">Com grosseiras palavras vos fustigue </span></div><div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span lang="PT" style="color: #660000; font-family: Verdana; font-size: 8pt;">Como se aos milhares fossem nesta vida!</span></div><div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><br />
</div><div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span lang="PT" style="color: #660000; font-family: Verdana; font-size: 8pt;">Há palavras que a foder dão euforia: </span></div><div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span lang="PT" style="color: #660000; font-family: Verdana; font-size: 8pt;">Para o fodedor, foda é palavra louca</span></div><div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span lang="PT" style="color: #660000; font-family: Verdana; font-size: 8pt;">E se a palavra traz sempre na boca </span></div><div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span lang="PT" style="color: #660000; font-family: Verdana; font-size: 8pt;">Qualquer colchão furado o alivia.</span></div><div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><br />
</div><div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span lang="PT" style="color: #660000; font-family: Verdana; font-size: 8pt;">O puro fodilhão é de enforcar! </span></div><div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span lang="PT" style="color: #660000; font-family: Verdana; font-size: 8pt;">Se ela o der até se esvaziar: </span></div><div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span lang="PT" style="color: #660000; font-family: Verdana; font-size: 8pt;">Bem. Maré não lava o que a arvore retém!</span></div><div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><br />
</div><div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span lang="PT" style="color: #660000; font-family: Verdana; font-size: 8pt;">Só não façam lavagem ao juízo!</span></div><div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span lang="PT" style="color: #660000; font-family: Verdana; font-size: 8pt;">Do homem a arte é: foder e pensar. </span></div><div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span lang="PT" style="color: #660000; font-family: Verdana; font-size: 8pt;">(Mas o luxo do homem é: o riso).</span><span lang="PT" style="font-family: Verdana; font-size: 8pt;"> </span></div><div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><br />
</div>I.Medeiroshttp://www.blogger.com/profile/18083889096041881211noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2023148339515995775.post-29546233257056482302012-02-09T15:48:00.000-02:002012-02-09T15:48:38.022-02:00Hilda Hilst<span style="color: black;">Toma-me.<br />
A tua boca de linho sobre a minha boca Austera.<br />
Toma-me AGORA, ANTES<br />
Antes que a carnadura se desfaça em sangue, antes<br />
Da morte, amor, da minha morte, toma-me<br />
Crava a tua mão, respira meu sopro, deglute<br />
Em cadência minha escura agonia.<br />
Tempo do corpo este tempo. Da fome<br />
Do de dentro. Corpo se conhecendo, lento,<br />
Um sol de diamante alimentando o ventre,<br />
O leite da tua carne, a minha<br />
Fugidia.<br />
E sobre nós este tempo futuro urdindo<br />
Urdindo a grande teia. Sobre nós a vida<br />
A vida se derramando. Cíclica. Escorrendo.<br />
Te descobres vivo sob um jogo novo.<br />
Te ordenas. E eu delinqüescida: amor, amor,<br />
Antes do muro, antes da terra, devo<br />
Devo gritar a minha palavra, uma encantada<br />
Ilharga<br />
Na cálida textura de um rochedo. Devo gritar<br />
Digo para mim mesma. Mas ao teu lado me estendo<br />
Imensa<br />
De púrpura. De prata. De delicadeza.</span>I.Medeiroshttp://www.blogger.com/profile/18083889096041881211noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2023148339515995775.post-81457632514547425752012-01-12T12:32:00.002-02:002012-02-09T15:41:10.951-02:00Leila MiccolisBons tempos ou Saudosa Maloca<br />
<br />
Namoro antigo: titia <br />
na sala bordava um pano, <br />
tomava conta, e ainda havia <br />
entre nós dois... um piano... <br />
<br />
Pra se mostrar, a vigia <br />
tocava um rondó cigano, <br />
tão mal, que ela enrubescia, <br />
se ria de algum engano... <br />
<br />
Por fim, como despedida, <br />
a mais ousada bravata: <br />
um beijo na minha tez. <br />
<br />
E após a tua saída, <br />
eu, titia e mais a gata, <br />
surubávamos as três...I.Medeiroshttp://www.blogger.com/profile/18083889096041881211noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2023148339515995775.post-35202735807680496792012-01-12T12:25:00.000-02:002012-01-12T12:25:14.435-02:00John DonneA pulga<br />
<br />
Repara nesta pulga e aprende bem<br />
Quão pouco é o que me negas com desdém.<br />
Ela sugou-me a mim e a ti depois,<br />
Mesclando assim o sangue de nós dois.<br />
E é certo que ninguém a isto aludo<br />
Como pecado ou perda de virtude.<br />
Mas ela goza sem ter cortejado<br />
E incha de um sangue em dois revigorado:<br />
É mais do que teríamos logrado.<br />
<br />
Poupa três vidas nesta que é capaz<br />
De nos fazer casados, quase ou mais.<br />
A pulga somos nós e este é o teu<br />
Leito de núpcias. Ela nos prendeu,<br />
Queiras ou não, e os outros contra nós,<br />
Nos muros vivos deste Breu, a sós.<br />
E embora possas dar-me fim, não dês:<br />
É suicídio e sacrilégio, três<br />
Pecados em três mortes de uma vez.<br />
<br />
Mas tinge de vermelho, indiferente,<br />
A tua unha em sangue de inocente.<br />
Que falta cometeu a pulga incauta<br />
Salvo a mínima gota que te falta?<br />
E te alegres de dizes que não sentes<br />
Nem a ti nem a mim menos potentes.<br />
Então, tua cautela é desmedida.<br />
Tanta honra hei de tomar, se concedida,<br />
Quanto a morte da pulga à tua vida.<br />
<!--
<p align="right"><br />
<font size="2" color="#808080"><i> (de "Obra")</i></font>-->I.Medeiroshttp://www.blogger.com/profile/18083889096041881211noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2023148339515995775.post-91508445987388239152011-12-06T12:13:00.000-02:002011-12-06T12:13:34.617-02:00Edu Lobo/ Chico BuarqueTango de Nancy<br />
<br />
Quem sou eu para falar de amor<br />
Se o amor me consumiu até a espinha<br />
Dos meus beijos que falar<br />
Dos desejos de queimar<br />
E dos beijos que apagaram os desejos que eu tinha<br />
<br />
Quem sou eu para falar de amor<br />
Se de tanto me entregar nunca fui minha<br />
O amor jamais foi meu<br />
O amor me conheceu<br />
Se esfregou na minha vida<br />
E me deixou assim<br />
<br />
Homens, eu nem fiz a soma<br />
De quantos rolaram no meu camarim<br />
Bocas chegavam a Roma passando por mim<br />
Ela de braços abertos<br />
Fazendo promessas<br />
Meus deuses, enfim!<br />
Eles gozando depressa<br />
E cheirando a gim<br />
Eles querendo na hora<br />
Por dentro, por fora<br />
Por cima, por trás<br />
Juro por Deus, de pés juntos<br />
Que nunca mais.<br />
<!--
<p align="right"><br />
<font size="2" color="#808080"><i> (de "")</i></font>-->I.Medeiroshttp://www.blogger.com/profile/18083889096041881211noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2023148339515995775.post-38646200180862990872011-11-23T19:43:00.000-02:002011-11-23T19:43:08.585-02:00Natália Correia<span style="font-size: large;"><b>Cosmocópula</b></span> <br />
I<br />
<br />
Membro a pino<br />
dia é macho<br />
submarino<br />
é entre coxas<br />
teu mergulho<br />
vício de ostras<br />
<br />
II<br />
<br />
O corpo é praia a boca é a nascente<br />
e é na vulva que a areia é mais sedenta<br />
poro a poro vou sendo o curso da água<br />
da tua língua demasiada e lenta<br />
dentes e unhas rebentam como pinhas<br />
de carnívoras plantas te é meu ventre<br />
abro-te as coxas e deixo-te crescer<br />
duro e cheiroso como o aloendro.<br />
<!--
<p align="right"><br />
<font size="2" color="#808080"><i> (de "")</i></font> -->I.Medeiroshttp://www.blogger.com/profile/18083889096041881211noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2023148339515995775.post-72729867090787961452011-11-20T18:49:00.000-02:002011-11-20T18:49:14.787-02:00Alice RuizTeu corpo seja brasa<br />
<br />
teu corpo seja brasa<br />
e o meu a casa<br />
que se consome no fogo<br />
<br />
um incêndio basta<br />
pra consumar esse jogo<br />
uma fogueira chega<br />
pra eu brincar de novo<br />
<!--
<p align="right"><br />
<font size="2" color="#808080"><i> (de "")</i></font>-->I.Medeiroshttp://www.blogger.com/profile/18083889096041881211noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2023148339515995775.post-33804871322390213732011-11-16T19:04:00.000-02:002011-11-16T19:04:29.008-02:00Giusta Santini<span lang=""> Mulheres têm medo de cobras<br />
de lagartas, baratas<br />
Mas não têm medo daquilo<br />
Que lá no fundo lhes toca.<br />
Mulheres podem ser negras<br />
ou pé de milho ou cegas<br />
Mas reverberam com aquilo<br />
(se são velhas)<br />
E se são moças gostam de espigas<br />
Negras<br />
Ao invés de batatas nas suas bocas.</span>I.Medeiroshttp://www.blogger.com/profile/18083889096041881211noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2023148339515995775.post-50774635478372166412011-11-11T12:01:00.000-02:002011-11-11T12:01:47.783-02:00Heinrich HeineQue mundo grosso...<br />
<br />
Que mundo grosso, gente avara,<br />
– E mais e mais sem mais sabor!<br />
Diz de você... o quê, amor?<br />
Que não tem vergonha na cara.<br />
<br />
Mundinho avaro, mundo cego,<br />
Sempre disposto a julgar mal.<br />
Seu beijo doce é meu apego,<br />
Sem falar na ardência final.I.Medeiroshttp://www.blogger.com/profile/18083889096041881211noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2023148339515995775.post-84424089545084715422011-11-06T02:16:00.000-02:002011-11-06T02:16:42.822-02:00Nina LeoninaAssadura<br />
<br />
Foi assim<br />
De tanto roçar em mim<br />
Assou<br />
Passei hipoglós<br />
Não passou<br />
Tentei gelo, mais ardeu<br />
Fiquei sentada de joelhos<br />
Pernas abertas<br />
Ventinho sul<br />
Não refrescou<br />
Tomei banho<br />
Hidratante<br />
Não adiantou<br />
Rosa mosqueta <br />
Nem pra pele de boceta<br />
Saí de saia sem calcinha<br />
Três dias depois passou.I.Medeiroshttp://www.blogger.com/profile/18083889096041881211noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2023148339515995775.post-38202742735623243692011-10-26T12:22:00.002-02:002011-10-26T12:22:47.968-02:00Mônica BanderasRicardo<br />
<br />
Com meus olhos <br />
invadi sua privacidade. <br />
Abri suas gavetas, <br />
bordei meu nome <br />
nas suas gravatas. <br />
risquei suas cuecas com batom. <br />
Suas pernas de calça <br />
amarrei-as uma a uma <br />
nas alças do meu sutiã. <br />
Minhas calcinhas estão junto com minhas fronhas <br />
Seu umbigo, <br />
escondi com um chumaço de algodão. <br />
Dos seus cinco dedos da mão esquerda <br />
o do meio é meu. <br />
Sou dona do seu sobrenome, <br />
medidas, cardário, <br />
cavidades, orifícios, <br />
suores, odores, manifestações. <br />
Denigro seu caráter frente ao espelho, <br />
respiro seu ar e... <br />
rasgo suas pernas, seus ombros, <br />
para depois colar <br />
parte por parte, <br />
na minha agenda escolar... <br />
<!--
<p align="right"><br />
<font size="2" color="#808080"><i> (de "")</i></font>-->I.Medeiroshttp://www.blogger.com/profile/18083889096041881211noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-2023148339515995775.post-7377786210175901532011-10-20T12:23:00.000-02:002011-10-20T12:23:08.778-02:00Florbela EspancaSe tu viesses ver-me hoje à tardinha<br />
<br />
Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,<br />
A essa hora dos mágicos cansaços,<br />
Quando a noite de manso se avizinha,<br />
E me prendesses toda nos teus barcos...<br />
<br />
Quando me lembra: esse sabor que tinha<br />
A tua boca... o eco dos teus passos...<br />
O teu riso de fonte... os teus abraços...<br />
Os teus beijos... a tua mão na minha...<br />
<br />
Se tu viesses quando, linda e louca,<br />
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo<br />
E é de seda vermelha e canta e ri<br />
<br />
E é como um cravo ao sol a minha boca...<br />
Quando os olhos se me cerram de desejo...<br />
E os meus braços se estendem para ti...I.Medeiroshttp://www.blogger.com/profile/18083889096041881211noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2023148339515995775.post-40082949015691500292011-10-13T14:23:00.002-03:002011-10-13T14:23:30.385-03:00António BottoInédito<br />
<br />
Nunca te foram ao cu<br />
Nem nas perninhas, aposto!<br />
Mas um homem como tu,<br />
Lavadinho , todo nu, gosto!<br />
<br />
Sem ter pentelho nenhum<br />
com certeza, não desgosto,<br />
Até gosto!<br />
Mas... gosto mais de fedelhos.<br />
<br />
Vou-lhes ao cu<br />
Dou-lhes conselhos,<br />
Enfim... gosto!I.Medeiroshttp://www.blogger.com/profile/18083889096041881211noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-2023148339515995775.post-14960751279357869712011-10-06T13:11:00.000-03:002011-10-06T13:11:07.997-03:00Sylvia PlathFebre, 40º<br />
<br />
Pura? Como assim?<br />
As línguas do inferno<br />
São sujas, sujas como as três<br />
<br />
Línguas do sujo e gordo Cérbero<br />
Que arfa ao portão. Incapaz<br />
De lamber e limpar<br />
<br />
O membro em febre, o pecado, o pecado.<br />
A chama chora.<br />
O cheiro inconfundível<br />
<br />
De um toco de vela!<br />
Amor, amor, a fumaça escapa de mim<br />
Como a écharpe de Isadora, e temo<br />
<br />
Que uma das pontas ancore-se na roda.<br />
Uma fumaça amarela e lenta assim<br />
faz de si seu elemento. Não vai subir,<br />
<br />
Mas envolver o globo<br />
Sufocando o velho e o oprimido,<br />
O frágil<br />
<br />
Bebê em seu berço,<br />
Orquídea pálida<br />
Suspensa em seu jardim suspenso no ar,<br />
<br />
Leopardo diabólico!<br />
A radiação o embarque<br />
E o mata em uma hora.<br />
<br />
Engordurando os corpos dos adúlteros<br />
Como as cinzas de Hiroshima que os devora.<br />
O pecado. O pecado.<br />
<br />
Meu bem, passei a noite<br />
Me virando, indo e vindo, indo e vindo,<br />
Os lençóis me oprimindo como o beijo de um devasso.<br />
<br />
Três dias. Três noites.<br />
Limonada, canja<br />
Aguarda, água me deixe enjoada.<br />
<br />
Sou pura demais pra você ou pra qualquer um.<br />
Seu corpo<br />
Me ofende como o mundo ofende Deus. Sou uma lanterna –<br />
<br />
Minha cabeça uma lua<br />
De papel japonês, minha pele folheada a ouro<br />
Infinitamente delicada e infinitamente cara.<br />
<br />
Meu calor não te assusta. Nem minha luz.<br />
Sou uma camélia imensa<br />
Que oscila e jorra e brilha, gozo a gozo.<br />
<br />
Acho que estou chegando,<br />
Acho que posso levantar –<br />
Contas de metal ardente voam, e eu, amor, eu<br />
<br />
Sou uma virgem pura<br />
De acetileno<br />
Cercada de rosas,<br />
<br />
De beijos, de querubins,<br />
Ou do que sejam essas coisas róseas.<br />
Não você, nem ele,<br />
<br />
Não ele, nem ele<br />
(Eu me dissolvo toda, anágua de puta velha) –<br />
Ao Paraíso.I.Medeiroshttp://www.blogger.com/profile/18083889096041881211noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2023148339515995775.post-62222854698324904132011-10-02T05:05:00.000-03:002011-10-02T05:05:07.964-03:00Regina de FontenelleA cor da paixão<br />
<br />
Em desejo possuída<br />
se joga,<br />
se rasga,<br />
se estraga<br />
contra os móveis,<br />
sobre as plantas,<br />
entremuros,<br />
se vê fera,<br />
se faz cadela,<br />
se morde serpente,<br />
ferida em seu desvario<br />
no mais escondido recanto do seu bem-querer,<br />
no seu coração perple o e ávido<br />
que ela desfibra devagar.<br />
<!--
<p align="right"><br />
<font size="2" color="#808080"><i> (de "")</i></font>-->I.Medeiroshttp://www.blogger.com/profile/18083889096041881211noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2023148339515995775.post-33260231570800416782011-09-28T16:22:00.000-03:002011-09-28T16:22:38.341-03:00Ulisses BorgesVermelho<br />
<br />
olhavas apenas.<br />
que de olhar-te entendeste a noite.<br />
<br />
<br />
de repente invento <br />
um jeito fatal de te olhar <br />
como quem não quer nada querendo tudo <br />
só para ver se venta <br />
pode ser também <br />
que eu te arranque os olhos grandes da cara <br />
e os coloque no lugar dos meus <br />
para que com eles eu te olhe sob o teu olhar <br />
numa noite morna como essa <br />
abafada e sem razão <br />
quem disse que era preciso? <br />
se desde sempre entre nós <br />
não houve lógica <br />
que o que sentimos não era divisão <br />
entre braços intrusos <br />
mãos que escorregam sempre bobas<br />
à procura de um canto pelo corpo <br />
olhamos <br />
porque ainda são vermelhos os olhares <br />
e o desejo: boca que tu pintas só para veres manchar o cigarro.<br />
*<br />
<br />
Maxilar<br />
<br />
apraz-me ainda mais<br />
o gosto por trás do beijo<br />
como o osso por trás da carne<br />
cerne âmago maxilar que firma o desejo. <br />
<br />
*<br />
<br />
quem dera<br />
se eu me teletransportar pudesse<br />
no meio dessa tarde fria<br />
para que aqueles olhos me vissem, concreto,<br />
além da fotografia.<br />
<br />
*<br />
<br />
tu:<br />
meu canto<br />
esquina do corpo<br />
ali onde os olhos viram.<br />
<br />
(<a href="http://www.ulisses-borges.blogspot.com/">http://www.ulisses-borges.blogspot.com/</a>)I.Medeiroshttp://www.blogger.com/profile/18083889096041881211noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-2023148339515995775.post-45819766374406846382011-09-28T14:04:00.000-03:002011-09-28T14:04:31.284-03:00GueixaSamba de breque<br />
<br />
Mãos nos seios<br />
boca em ancas<br />
mãos no falo<br />
me calo, me embalo<br />
chocalho<br />
<br />
Um samba de breque<br />
no lugar do leque<br />
que põe em cheque<br />
o que está em chamas<br />
quando tu me chamas<br />
até a cama.<br />
<br />
<br />
<br />
<!--
<p align="right"><br />
<font size="2" color="#808080"><i> (de "")</i></font> -->I.Medeiroshttp://www.blogger.com/profile/18083889096041881211noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2023148339515995775.post-80091573403822387612011-09-27T17:42:00.000-03:002011-09-27T17:42:19.376-03:00Eunice ArrudaTema<br />
<br />
Deliberadamente<br />
utilizamos<br />
todas as zonas erógenas<br />
submissos<br />
<br />
aos animais<br />
que transitavam a pele<br />
submissos<br />
a nossa disponibilidade<br />
imerecida<br />
sacudida<br />
por buzinas<br />
chuvas repentinas confundindo<br />
as marcas de um caminho já<br />
percorrido<br />
<br />
Deliberadamente<br />
entre suor e grunhido<br />
molhado<br />
o ritual foi cumprido<br />
<br />
Só então nos devolvemos.<br />
<!--
<p align="right"><br />
<font size="2" color="#808080"><i> (de "")</i></font>-->I.Medeiroshttp://www.blogger.com/profile/18083889096041881211noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2023148339515995775.post-42387732629036612482011-09-26T21:29:00.000-03:002011-09-26T21:29:32.685-03:00Eliane Pantoja VaidyaMe comovem<br />
Tuas mãos limpas<br />
E tua boca suja.I.Medeiroshttp://www.blogger.com/profile/18083889096041881211noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2023148339515995775.post-17671231934298104912011-09-24T22:56:00.000-03:002011-09-24T22:56:13.736-03:00Janice CaiafaLuz/sem luz<br />
<br />
Meia-lua escura<br />
na unha é anel<br />
de musa, ao céu<br />
é ranhura de luz<br />
no sexo marca difusa<br />
vala ventosa que suga<br />
com ar rarefeito<br />
<br />
Palma acidental só vulto<br />
varia vertente convulsa<br />
versátil em ondas em outra<br />
de uma estrela<br />
ausente veluda<br />
o rastro de pontas.<br />
<!--
<p align="right"><br />
<font size="2" color="#808080"><i> (de "")</i></font>-->I.Medeiroshttp://www.blogger.com/profile/18083889096041881211noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2023148339515995775.post-12345531472388808202011-09-24T22:52:00.000-03:002011-09-24T22:52:24.837-03:00Luiz Gustavoo olhar promissor<br />
transcendeu o verso mudo<br />
a imagem saindo da fotografia<br />
em preto e branco assim como a vida<br />
virou olhos de jade duas pérolas preciosas<br />
querendo partir-me para sempre de si mesma<br />
ao meio o ventre este que te carrega a(té) o fim<br />
<br />
tremo : trema não temas ferrugens <br />
entre os olhos fios fendas<br />
<br />
são espelhos abrindo os gestos em ti tão<br />
reveladores ancorada sobre o pulso<br />
escorrendo entre os dedos e ardem<br />
numa diáspora de dor onde ao avesso<br />
sem medo beijavas o vento teus cabelos<br />
pulsando suspiros a boca pulsando<br />
sem trégua do olhar pulsando<br />
cuja imagem preciso pulsar<br />
o corpo o olhar a boca<br />
<br />
(<a href="http://www.escarceunario.blogspot.com/">http://www.escarceunario.blogspot.com/</a>)I.Medeiroshttp://www.blogger.com/profile/18083889096041881211noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2023148339515995775.post-92178415063134033032011-09-23T01:57:00.000-03:002011-09-23T01:57:02.544-03:00Jorge Lúcio de Campos<i>A origem do mundo</i><br />
<br />
<i>(a Gustave Courbet)</i><br />
<br />
Há uma doença qualquer tagarela<br />
nesse buço de quasares negros<br />
<br />
ao meu lado; aqui comigo a carne<br />
ferve aos poucos – cortes lentos<br />
<br />
Mas por que não regurgita agora<br />
a vulva cáqui linguaruda<br />
<br />
sob a luz desenroscada<br />
da manhã?<br />
<br />
*<br />
<br />
Poema paralelo às coxas<br />
<br />
<i>(a Regis Bonvicino)</i><br />
<br />
de bruços <br />
a penetro<br />
<br />
casto<br />
custo<br />
<!--
<p align="right"><br />
<font size="2" color="#808080"><i> (de "")</i></font> --><br />
<br />
*<br />
<br />
A grande fachada<br />
<br />
<i>(a Wols)</i><br />
<br />
Um passo à frente<br />
algo simples – não<br />
<br />
que procure algo –<br />
apenas me esqueço<br />
<br />
de que no raso da<br />
nuca a espinha se <br />
<br />
eriça – o velcro<br />
do cu se abre no<br />
<br />
afã de sempre –<br />
hoje bem cedo<br />
<br />
por toda parte<br />
ou apenas isso.<br />
<!--
<p align="right"><br />
<font size="2" color="#808080"><i> (de "")</i></font> --><br />
<br />
<br />
<!--
<p align="right"><br />
<font size="2" color="#808080"><i> (de "")</i></font> -->I.Medeiroshttp://www.blogger.com/profile/18083889096041881211noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2023148339515995775.post-78035617461695274472011-09-23T01:51:00.000-03:002011-09-23T01:51:29.862-03:00Douglas MondoPuta-Maria<br />
<br />
Infeliz vai sentida:<br />
mal sabe o papel <br />
que tem na vida.<br />
<br />
Dar prazer e guarida;<br />
do amor ser sossego<br />
a quem nunca teve partida.<br />
<br />
Do suor fazer tempero,<br />
e da flor nunca ter afago;<br />
doutro corpo o acre-cheiro.<br />
<br />
O gozo presente negado,<br />
e na pele o rasgo nu;<br />
por amor algum trocado.<br />
<br />
Infeliz vai adormecida;<br />
pela paga não tem fome,<br />
é gruta santa da forte cuspida.<br />
<br />
É Maria,<br />
é Puta-Maria,<br />
é santa<br />
da putaria.I.Medeiroshttp://www.blogger.com/profile/18083889096041881211noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2023148339515995775.post-53655212382362344342011-09-23T01:45:00.002-03:002011-09-23T01:45:47.107-03:00Ricardo KelmerPoemas de saliva<br />
<br />
Deslizo poemas de saliva<br />
No rascunho da tua pele<br />
Rimas profanas, estrofes abissais<br />
O sentido profundo de um verso<br />
Fala a língua dos teus gestos<br />
Em convulsões gramaticais <br />
<br />
Poemas recatados na tua pele sem pecado<br />
Poemas de navalha no teu corpo sem perdão<br />
A figura de linguagem do desejo<br />
Fala a língua do meu beijo<br />
Sem tradução <br />
<!--
<p align="right"><br />
<font size="2" color="#808080"><i> (de "")</i></font> -->I.Medeiroshttp://www.blogger.com/profile/18083889096041881211noreply@blogger.com0