12 de janeiro de 2012

Leila Miccolis

Bons tempos ou Saudosa Maloca

Namoro antigo: titia
na sala bordava um pano,
tomava conta, e ainda havia
entre nós dois... um piano...

Pra se mostrar, a vigia
tocava um rondó cigano,
tão mal, que ela enrubescia,
se ria de algum engano...

Por fim, como despedida,
a mais ousada bravata:
um beijo na minha tez.

E após a tua saída,
eu, titia e mais a gata,
surubávamos as três...

John Donne

A pulga

Repara nesta pulga e aprende bem
Quão pouco é o que me negas com desdém.
Ela sugou-me a mim e a ti depois,
Mesclando assim o sangue de nós dois.
E é certo que ninguém a isto aludo
Como pecado ou perda de virtude.
     Mas ela goza sem ter cortejado
     E incha de um sangue em dois revigorado:
     É mais do que teríamos logrado.

Poupa três vidas nesta que é capaz
De nos fazer casados, quase ou mais.
A pulga somos nós e este é o teu
Leito de núpcias. Ela nos prendeu,
Queiras ou não, e os outros contra nós,
Nos muros vivos deste Breu, a sós.
     E embora possas dar-me fim, não dês:
     É suicídio e sacrilégio, três
     Pecados em três mortes de uma vez.

Mas tinge de vermelho, indiferente,
A tua unha em sangue de inocente.
Que falta cometeu a pulga incauta
Salvo a mínima gota que te falta?
E te alegres de dizes que não sentes
Nem a ti nem a mim menos potentes.
     Então, tua cautela é desmedida.
     Tanta honra hei de tomar, se concedida,
     Quanto a morte da pulga à tua vida.