Quem diabo é deus?
deus não é a antimatéria
deus não é o anticristo
deus não é o caos
deus não é o cosmo
não é um campo magnético
não é um corpo magnífico
não é a voz do povo
não é a paz do papa
deus não é um sapo horrendo
do lodo do brejo nojento
nem o excremento fedorento
mas podia ser
se não fosse aquele garoto
que me deflora a boca
e me degusta a sola
quando trepa comigo.
aspas entre aspas
5 de junho de 2012
12 de março de 2012
Bertolt Brecht
O uso das palavras obscenas
Desmedido eu que vivo com medida
Amigos, deixai-me que vos explique
Com grosseiras palavras vos fustigue
Como se aos milhares fossem nesta vida!
Há palavras que a foder dão euforia:
Para o fodedor, foda é palavra louca
E se a palavra traz sempre na boca
Qualquer colchão furado o alivia.
O puro fodilhão é de enforcar!
Se ela o der até se esvaziar:
Bem. Maré não lava o que a arvore retém!
Só não façam lavagem ao juízo!
Do homem a arte é: foder e pensar.
(Mas o luxo do homem é: o riso).
9 de fevereiro de 2012
Hilda Hilst
Toma-me.
A tua boca de linho sobre a minha boca Austera.
Toma-me AGORA, ANTES
Antes que a carnadura se desfaça em sangue, antes
Da morte, amor, da minha morte, toma-me
Crava a tua mão, respira meu sopro, deglute
Em cadência minha escura agonia.
Tempo do corpo este tempo. Da fome
Do de dentro. Corpo se conhecendo, lento,
Um sol de diamante alimentando o ventre,
O leite da tua carne, a minha
Fugidia.
E sobre nós este tempo futuro urdindo
Urdindo a grande teia. Sobre nós a vida
A vida se derramando. Cíclica. Escorrendo.
Te descobres vivo sob um jogo novo.
Te ordenas. E eu delinqüescida: amor, amor,
Antes do muro, antes da terra, devo
Devo gritar a minha palavra, uma encantada
Ilharga
Na cálida textura de um rochedo. Devo gritar
Digo para mim mesma. Mas ao teu lado me estendo
Imensa
De púrpura. De prata. De delicadeza.
A tua boca de linho sobre a minha boca Austera.
Toma-me AGORA, ANTES
Antes que a carnadura se desfaça em sangue, antes
Da morte, amor, da minha morte, toma-me
Crava a tua mão, respira meu sopro, deglute
Em cadência minha escura agonia.
Tempo do corpo este tempo. Da fome
Do de dentro. Corpo se conhecendo, lento,
Um sol de diamante alimentando o ventre,
O leite da tua carne, a minha
Fugidia.
E sobre nós este tempo futuro urdindo
Urdindo a grande teia. Sobre nós a vida
A vida se derramando. Cíclica. Escorrendo.
Te descobres vivo sob um jogo novo.
Te ordenas. E eu delinqüescida: amor, amor,
Antes do muro, antes da terra, devo
Devo gritar a minha palavra, uma encantada
Ilharga
Na cálida textura de um rochedo. Devo gritar
Digo para mim mesma. Mas ao teu lado me estendo
Imensa
De púrpura. De prata. De delicadeza.
12 de janeiro de 2012
Leila Miccolis
Bons tempos ou Saudosa Maloca
Namoro antigo: titia
na sala bordava um pano,
tomava conta, e ainda havia
entre nós dois... um piano...
Pra se mostrar, a vigia
tocava um rondó cigano,
tão mal, que ela enrubescia,
se ria de algum engano...
Por fim, como despedida,
a mais ousada bravata:
um beijo na minha tez.
E após a tua saída,
eu, titia e mais a gata,
surubávamos as três...
Namoro antigo: titia
na sala bordava um pano,
tomava conta, e ainda havia
entre nós dois... um piano...
Pra se mostrar, a vigia
tocava um rondó cigano,
tão mal, que ela enrubescia,
se ria de algum engano...
Por fim, como despedida,
a mais ousada bravata:
um beijo na minha tez.
E após a tua saída,
eu, titia e mais a gata,
surubávamos as três...
John Donne
A pulga
Repara nesta pulga e aprende bem
Quão pouco é o que me negas com desdém.
Ela sugou-me a mim e a ti depois,
Mesclando assim o sangue de nós dois.
E é certo que ninguém a isto aludo
Como pecado ou perda de virtude.
Mas ela goza sem ter cortejado
E incha de um sangue em dois revigorado:
É mais do que teríamos logrado.
Poupa três vidas nesta que é capaz
De nos fazer casados, quase ou mais.
A pulga somos nós e este é o teu
Leito de núpcias. Ela nos prendeu,
Queiras ou não, e os outros contra nós,
Nos muros vivos deste Breu, a sós.
E embora possas dar-me fim, não dês:
É suicídio e sacrilégio, três
Pecados em três mortes de uma vez.
Mas tinge de vermelho, indiferente,
A tua unha em sangue de inocente.
Que falta cometeu a pulga incauta
Salvo a mínima gota que te falta?
E te alegres de dizes que não sentes
Nem a ti nem a mim menos potentes.
Então, tua cautela é desmedida.
Tanta honra hei de tomar, se concedida,
Quanto a morte da pulga à tua vida.
Repara nesta pulga e aprende bem
Quão pouco é o que me negas com desdém.
Ela sugou-me a mim e a ti depois,
Mesclando assim o sangue de nós dois.
E é certo que ninguém a isto aludo
Como pecado ou perda de virtude.
Mas ela goza sem ter cortejado
E incha de um sangue em dois revigorado:
É mais do que teríamos logrado.
Poupa três vidas nesta que é capaz
De nos fazer casados, quase ou mais.
A pulga somos nós e este é o teu
Leito de núpcias. Ela nos prendeu,
Queiras ou não, e os outros contra nós,
Nos muros vivos deste Breu, a sós.
E embora possas dar-me fim, não dês:
É suicídio e sacrilégio, três
Pecados em três mortes de uma vez.
Mas tinge de vermelho, indiferente,
A tua unha em sangue de inocente.
Que falta cometeu a pulga incauta
Salvo a mínima gota que te falta?
E te alegres de dizes que não sentes
Nem a ti nem a mim menos potentes.
Então, tua cautela é desmedida.
Tanta honra hei de tomar, se concedida,
Quanto a morte da pulga à tua vida.
6 de dezembro de 2011
Edu Lobo/ Chico Buarque
Tango de Nancy
Quem sou eu para falar de amor
Se o amor me consumiu até a espinha
Dos meus beijos que falar
Dos desejos de queimar
E dos beijos que apagaram os desejos que eu tinha
Quem sou eu para falar de amor
Se de tanto me entregar nunca fui minha
O amor jamais foi meu
O amor me conheceu
Se esfregou na minha vida
E me deixou assim
Homens, eu nem fiz a soma
De quantos rolaram no meu camarim
Bocas chegavam a Roma passando por mim
Ela de braços abertos
Fazendo promessas
Meus deuses, enfim!
Eles gozando depressa
E cheirando a gim
Eles querendo na hora
Por dentro, por fora
Por cima, por trás
Juro por Deus, de pés juntos
Que nunca mais.
Quem sou eu para falar de amor
Se o amor me consumiu até a espinha
Dos meus beijos que falar
Dos desejos de queimar
E dos beijos que apagaram os desejos que eu tinha
Quem sou eu para falar de amor
Se de tanto me entregar nunca fui minha
O amor jamais foi meu
O amor me conheceu
Se esfregou na minha vida
E me deixou assim
Homens, eu nem fiz a soma
De quantos rolaram no meu camarim
Bocas chegavam a Roma passando por mim
Ela de braços abertos
Fazendo promessas
Meus deuses, enfim!
Eles gozando depressa
E cheirando a gim
Eles querendo na hora
Por dentro, por fora
Por cima, por trás
Juro por Deus, de pés juntos
Que nunca mais.
23 de novembro de 2011
Natália Correia
Cosmocópula
I
Membro a pino
dia é macho
submarino
é entre coxas
teu mergulho
vício de ostras
II
O corpo é praia a boca é a nascente
e é na vulva que a areia é mais sedenta
poro a poro vou sendo o curso da água
da tua língua demasiada e lenta
dentes e unhas rebentam como pinhas
de carnívoras plantas te é meu ventre
abro-te as coxas e deixo-te crescer
duro e cheiroso como o aloendro.
I
Membro a pino
dia é macho
submarino
é entre coxas
teu mergulho
vício de ostras
II
O corpo é praia a boca é a nascente
e é na vulva que a areia é mais sedenta
poro a poro vou sendo o curso da água
da tua língua demasiada e lenta
dentes e unhas rebentam como pinhas
de carnívoras plantas te é meu ventre
abro-te as coxas e deixo-te crescer
duro e cheiroso como o aloendro.
20 de novembro de 2011
Alice Ruiz
Teu corpo seja brasa
teu corpo seja brasa
e o meu a casa
que se consome no fogo
um incêndio basta
pra consumar esse jogo
uma fogueira chega
pra eu brincar de novo
teu corpo seja brasa
e o meu a casa
que se consome no fogo
um incêndio basta
pra consumar esse jogo
uma fogueira chega
pra eu brincar de novo
16 de novembro de 2011
Giusta Santini
Mulheres têm medo de cobras
de lagartas, baratas
Mas não têm medo daquilo
Que lá no fundo lhes toca.
Mulheres podem ser negras
ou pé de milho ou cegas
Mas reverberam com aquilo
(se são velhas)
E se são moças gostam de espigas
Negras
Ao invés de batatas nas suas bocas.
de lagartas, baratas
Mas não têm medo daquilo
Que lá no fundo lhes toca.
Mulheres podem ser negras
ou pé de milho ou cegas
Mas reverberam com aquilo
(se são velhas)
E se são moças gostam de espigas
Negras
Ao invés de batatas nas suas bocas.
11 de novembro de 2011
Heinrich Heine
Que mundo grosso...
Que mundo grosso, gente avara,
– E mais e mais sem mais sabor!
Diz de você... o quê, amor?
Que não tem vergonha na cara.
Mundinho avaro, mundo cego,
Sempre disposto a julgar mal.
Seu beijo doce é meu apego,
Sem falar na ardência final.
Que mundo grosso, gente avara,
– E mais e mais sem mais sabor!
Diz de você... o quê, amor?
Que não tem vergonha na cara.
Mundinho avaro, mundo cego,
Sempre disposto a julgar mal.
Seu beijo doce é meu apego,
Sem falar na ardência final.
6 de novembro de 2011
Nina Leonina
Assadura
Foi assim
De tanto roçar em mim
Assou
Passei hipoglós
Não passou
Tentei gelo, mais ardeu
Fiquei sentada de joelhos
Pernas abertas
Ventinho sul
Não refrescou
Tomei banho
Hidratante
Não adiantou
Rosa mosqueta
Nem pra pele de boceta
Saí de saia sem calcinha
Três dias depois passou.
Foi assim
De tanto roçar em mim
Assou
Passei hipoglós
Não passou
Tentei gelo, mais ardeu
Fiquei sentada de joelhos
Pernas abertas
Ventinho sul
Não refrescou
Tomei banho
Hidratante
Não adiantou
Rosa mosqueta
Nem pra pele de boceta
Saí de saia sem calcinha
Três dias depois passou.
26 de outubro de 2011
Mônica Banderas
Ricardo
Com meus olhos
invadi sua privacidade.
Abri suas gavetas,
bordei meu nome
nas suas gravatas.
risquei suas cuecas com batom.
Suas pernas de calça
amarrei-as uma a uma
nas alças do meu sutiã.
Minhas calcinhas estão junto com minhas fronhas
Seu umbigo,
escondi com um chumaço de algodão.
Dos seus cinco dedos da mão esquerda
o do meio é meu.
Sou dona do seu sobrenome,
medidas, cardário,
cavidades, orifícios,
suores, odores, manifestações.
Denigro seu caráter frente ao espelho,
respiro seu ar e...
rasgo suas pernas, seus ombros,
para depois colar
parte por parte,
na minha agenda escolar...
Com meus olhos
invadi sua privacidade.
Abri suas gavetas,
bordei meu nome
nas suas gravatas.
risquei suas cuecas com batom.
Suas pernas de calça
amarrei-as uma a uma
nas alças do meu sutiã.
Minhas calcinhas estão junto com minhas fronhas
Seu umbigo,
escondi com um chumaço de algodão.
Dos seus cinco dedos da mão esquerda
o do meio é meu.
Sou dona do seu sobrenome,
medidas, cardário,
cavidades, orifícios,
suores, odores, manifestações.
Denigro seu caráter frente ao espelho,
respiro seu ar e...
rasgo suas pernas, seus ombros,
para depois colar
parte por parte,
na minha agenda escolar...
20 de outubro de 2011
Florbela Espanca
Se tu viesses ver-me hoje à tardinha
Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus barcos...
Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...
Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri
E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...
Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus barcos...
Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...
Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri
E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...
13 de outubro de 2011
António Botto
Inédito
Nunca te foram ao cu
Nem nas perninhas, aposto!
Mas um homem como tu,
Lavadinho , todo nu, gosto!
Sem ter pentelho nenhum
com certeza, não desgosto,
Até gosto!
Mas... gosto mais de fedelhos.
Vou-lhes ao cu
Dou-lhes conselhos,
Enfim... gosto!
Nunca te foram ao cu
Nem nas perninhas, aposto!
Mas um homem como tu,
Lavadinho , todo nu, gosto!
Sem ter pentelho nenhum
com certeza, não desgosto,
Até gosto!
Mas... gosto mais de fedelhos.
Vou-lhes ao cu
Dou-lhes conselhos,
Enfim... gosto!
6 de outubro de 2011
Sylvia Plath
Febre, 40º
Pura? Como assim?
As línguas do inferno
São sujas, sujas como as três
Línguas do sujo e gordo Cérbero
Que arfa ao portão. Incapaz
De lamber e limpar
O membro em febre, o pecado, o pecado.
A chama chora.
O cheiro inconfundível
De um toco de vela!
Amor, amor, a fumaça escapa de mim
Como a écharpe de Isadora, e temo
Que uma das pontas ancore-se na roda.
Uma fumaça amarela e lenta assim
faz de si seu elemento. Não vai subir,
Mas envolver o globo
Sufocando o velho e o oprimido,
O frágil
Bebê em seu berço,
Orquídea pálida
Suspensa em seu jardim suspenso no ar,
Leopardo diabólico!
A radiação o embarque
E o mata em uma hora.
Engordurando os corpos dos adúlteros
Como as cinzas de Hiroshima que os devora.
O pecado. O pecado.
Meu bem, passei a noite
Me virando, indo e vindo, indo e vindo,
Os lençóis me oprimindo como o beijo de um devasso.
Três dias. Três noites.
Limonada, canja
Aguarda, água me deixe enjoada.
Sou pura demais pra você ou pra qualquer um.
Seu corpo
Me ofende como o mundo ofende Deus. Sou uma lanterna –
Minha cabeça uma lua
De papel japonês, minha pele folheada a ouro
Infinitamente delicada e infinitamente cara.
Meu calor não te assusta. Nem minha luz.
Sou uma camélia imensa
Que oscila e jorra e brilha, gozo a gozo.
Acho que estou chegando,
Acho que posso levantar –
Contas de metal ardente voam, e eu, amor, eu
Sou uma virgem pura
De acetileno
Cercada de rosas,
De beijos, de querubins,
Ou do que sejam essas coisas róseas.
Não você, nem ele,
Não ele, nem ele
(Eu me dissolvo toda, anágua de puta velha) –
Ao Paraíso.
Pura? Como assim?
As línguas do inferno
São sujas, sujas como as três
Línguas do sujo e gordo Cérbero
Que arfa ao portão. Incapaz
De lamber e limpar
O membro em febre, o pecado, o pecado.
A chama chora.
O cheiro inconfundível
De um toco de vela!
Amor, amor, a fumaça escapa de mim
Como a écharpe de Isadora, e temo
Que uma das pontas ancore-se na roda.
Uma fumaça amarela e lenta assim
faz de si seu elemento. Não vai subir,
Mas envolver o globo
Sufocando o velho e o oprimido,
O frágil
Bebê em seu berço,
Orquídea pálida
Suspensa em seu jardim suspenso no ar,
Leopardo diabólico!
A radiação o embarque
E o mata em uma hora.
Engordurando os corpos dos adúlteros
Como as cinzas de Hiroshima que os devora.
O pecado. O pecado.
Meu bem, passei a noite
Me virando, indo e vindo, indo e vindo,
Os lençóis me oprimindo como o beijo de um devasso.
Três dias. Três noites.
Limonada, canja
Aguarda, água me deixe enjoada.
Sou pura demais pra você ou pra qualquer um.
Seu corpo
Me ofende como o mundo ofende Deus. Sou uma lanterna –
Minha cabeça uma lua
De papel japonês, minha pele folheada a ouro
Infinitamente delicada e infinitamente cara.
Meu calor não te assusta. Nem minha luz.
Sou uma camélia imensa
Que oscila e jorra e brilha, gozo a gozo.
Acho que estou chegando,
Acho que posso levantar –
Contas de metal ardente voam, e eu, amor, eu
Sou uma virgem pura
De acetileno
Cercada de rosas,
De beijos, de querubins,
Ou do que sejam essas coisas róseas.
Não você, nem ele,
Não ele, nem ele
(Eu me dissolvo toda, anágua de puta velha) –
Ao Paraíso.
2 de outubro de 2011
Regina de Fontenelle
A cor da paixão
Em desejo possuída
se joga,
se rasga,
se estraga
contra os móveis,
sobre as plantas,
entremuros,
se vê fera,
se faz cadela,
se morde serpente,
ferida em seu desvario
no mais escondido recanto do seu bem-querer,
no seu coração perple o e ávido
que ela desfibra devagar.
Em desejo possuída
se joga,
se rasga,
se estraga
contra os móveis,
sobre as plantas,
entremuros,
se vê fera,
se faz cadela,
se morde serpente,
ferida em seu desvario
no mais escondido recanto do seu bem-querer,
no seu coração perple o e ávido
que ela desfibra devagar.
28 de setembro de 2011
Ulisses Borges
Vermelho
olhavas apenas.
que de olhar-te entendeste a noite.
de repente invento
um jeito fatal de te olhar
como quem não quer nada querendo tudo
só para ver se venta
pode ser também
que eu te arranque os olhos grandes da cara
e os coloque no lugar dos meus
para que com eles eu te olhe sob o teu olhar
numa noite morna como essa
abafada e sem razão
quem disse que era preciso?
se desde sempre entre nós
não houve lógica
que o que sentimos não era divisão
entre braços intrusos
mãos que escorregam sempre bobas
à procura de um canto pelo corpo
olhamos
porque ainda são vermelhos os olhares
e o desejo: boca que tu pintas só para veres manchar o cigarro.
*
Maxilar
apraz-me ainda mais
o gosto por trás do beijo
como o osso por trás da carne
cerne âmago maxilar que firma o desejo.
*
quem dera
se eu me teletransportar pudesse
no meio dessa tarde fria
para que aqueles olhos me vissem, concreto,
além da fotografia.
*
tu:
meu canto
esquina do corpo
ali onde os olhos viram.
(http://www.ulisses-borges.blogspot.com/)
olhavas apenas.
que de olhar-te entendeste a noite.
de repente invento
um jeito fatal de te olhar
como quem não quer nada querendo tudo
só para ver se venta
pode ser também
que eu te arranque os olhos grandes da cara
e os coloque no lugar dos meus
para que com eles eu te olhe sob o teu olhar
numa noite morna como essa
abafada e sem razão
quem disse que era preciso?
se desde sempre entre nós
não houve lógica
que o que sentimos não era divisão
entre braços intrusos
mãos que escorregam sempre bobas
à procura de um canto pelo corpo
olhamos
porque ainda são vermelhos os olhares
e o desejo: boca que tu pintas só para veres manchar o cigarro.
*
Maxilar
apraz-me ainda mais
o gosto por trás do beijo
como o osso por trás da carne
cerne âmago maxilar que firma o desejo.
*
quem dera
se eu me teletransportar pudesse
no meio dessa tarde fria
para que aqueles olhos me vissem, concreto,
além da fotografia.
*
tu:
meu canto
esquina do corpo
ali onde os olhos viram.
(http://www.ulisses-borges.blogspot.com/)
Gueixa
Samba de breque
Mãos nos seios
boca em ancas
mãos no falo
me calo, me embalo
chocalho
Um samba de breque
no lugar do leque
que põe em cheque
o que está em chamas
quando tu me chamas
até a cama.
Mãos nos seios
boca em ancas
mãos no falo
me calo, me embalo
chocalho
Um samba de breque
no lugar do leque
que põe em cheque
o que está em chamas
quando tu me chamas
até a cama.
27 de setembro de 2011
Eunice Arruda
Tema
Deliberadamente
utilizamos
todas as zonas erógenas
submissos
aos animais
que transitavam a pele
submissos
a nossa disponibilidade
imerecida
sacudida
por buzinas
chuvas repentinas confundindo
as marcas de um caminho já
percorrido
Deliberadamente
entre suor e grunhido
molhado
o ritual foi cumprido
Só então nos devolvemos.
Deliberadamente
utilizamos
todas as zonas erógenas
submissos
aos animais
que transitavam a pele
submissos
a nossa disponibilidade
imerecida
sacudida
por buzinas
chuvas repentinas confundindo
as marcas de um caminho já
percorrido
Deliberadamente
entre suor e grunhido
molhado
o ritual foi cumprido
Só então nos devolvemos.
26 de setembro de 2011
24 de setembro de 2011
Janice Caiafa
Luz/sem luz
Meia-lua escura
na unha é anel
de musa, ao céu
é ranhura de luz
no sexo marca difusa
vala ventosa que suga
com ar rarefeito
Palma acidental só vulto
varia vertente convulsa
versátil em ondas em outra
de uma estrela
ausente veluda
o rastro de pontas.
Meia-lua escura
na unha é anel
de musa, ao céu
é ranhura de luz
no sexo marca difusa
vala ventosa que suga
com ar rarefeito
Palma acidental só vulto
varia vertente convulsa
versátil em ondas em outra
de uma estrela
ausente veluda
o rastro de pontas.
Luiz Gustavo
o olhar promissor
transcendeu o verso mudo
a imagem saindo da fotografia
em preto e branco assim como a vida
virou olhos de jade duas pérolas preciosas
querendo partir-me para sempre de si mesma
ao meio o ventre este que te carrega a(té) o fim
tremo : trema não temas ferrugens
entre os olhos fios fendas
são espelhos abrindo os gestos em ti tão
reveladores ancorada sobre o pulso
escorrendo entre os dedos e ardem
numa diáspora de dor onde ao avesso
sem medo beijavas o vento teus cabelos
pulsando suspiros a boca pulsando
sem trégua do olhar pulsando
cuja imagem preciso pulsar
o corpo o olhar a boca
(http://www.escarceunario.blogspot.com/)
transcendeu o verso mudo
a imagem saindo da fotografia
em preto e branco assim como a vida
virou olhos de jade duas pérolas preciosas
querendo partir-me para sempre de si mesma
ao meio o ventre este que te carrega a(té) o fim
tremo : trema não temas ferrugens
entre os olhos fios fendas
são espelhos abrindo os gestos em ti tão
reveladores ancorada sobre o pulso
escorrendo entre os dedos e ardem
numa diáspora de dor onde ao avesso
sem medo beijavas o vento teus cabelos
pulsando suspiros a boca pulsando
sem trégua do olhar pulsando
cuja imagem preciso pulsar
o corpo o olhar a boca
(http://www.escarceunario.blogspot.com/)
23 de setembro de 2011
Jorge Lúcio de Campos
A origem do mundo
(a Gustave Courbet)
Há uma doença qualquer tagarela
nesse buço de quasares negros
ao meu lado; aqui comigo a carne
ferve aos poucos – cortes lentos
Mas por que não regurgita agora
a vulva cáqui linguaruda
sob a luz desenroscada
da manhã?
*
Poema paralelo às coxas
(a Regis Bonvicino)
de bruços
a penetro
casto
custo
*
A grande fachada
(a Wols)
Um passo à frente
algo simples – não
que procure algo –
apenas me esqueço
de que no raso da
nuca a espinha se
eriça – o velcro
do cu se abre no
afã de sempre –
hoje bem cedo
por toda parte
ou apenas isso.
(a Gustave Courbet)
Há uma doença qualquer tagarela
nesse buço de quasares negros
ao meu lado; aqui comigo a carne
ferve aos poucos – cortes lentos
Mas por que não regurgita agora
a vulva cáqui linguaruda
sob a luz desenroscada
da manhã?
*
Poema paralelo às coxas
(a Regis Bonvicino)
de bruços
a penetro
casto
custo
*
A grande fachada
(a Wols)
Um passo à frente
algo simples – não
que procure algo –
apenas me esqueço
de que no raso da
nuca a espinha se
eriça – o velcro
do cu se abre no
afã de sempre –
hoje bem cedo
por toda parte
ou apenas isso.
Douglas Mondo
Puta-Maria
Infeliz vai sentida:
mal sabe o papel
que tem na vida.
Dar prazer e guarida;
do amor ser sossego
a quem nunca teve partida.
Do suor fazer tempero,
e da flor nunca ter afago;
doutro corpo o acre-cheiro.
O gozo presente negado,
e na pele o rasgo nu;
por amor algum trocado.
Infeliz vai adormecida;
pela paga não tem fome,
é gruta santa da forte cuspida.
É Maria,
é Puta-Maria,
é santa
da putaria.
Infeliz vai sentida:
mal sabe o papel
que tem na vida.
Dar prazer e guarida;
do amor ser sossego
a quem nunca teve partida.
Do suor fazer tempero,
e da flor nunca ter afago;
doutro corpo o acre-cheiro.
O gozo presente negado,
e na pele o rasgo nu;
por amor algum trocado.
Infeliz vai adormecida;
pela paga não tem fome,
é gruta santa da forte cuspida.
É Maria,
é Puta-Maria,
é santa
da putaria.
Ricardo Kelmer
Poemas de saliva
Deslizo poemas de saliva
No rascunho da tua pele
Rimas profanas, estrofes abissais
O sentido profundo de um verso
Fala a língua dos teus gestos
Em convulsões gramaticais
Poemas recatados na tua pele sem pecado
Poemas de navalha no teu corpo sem perdão
A figura de linguagem do desejo
Fala a língua do meu beijo
Sem tradução
Deslizo poemas de saliva
No rascunho da tua pele
Rimas profanas, estrofes abissais
O sentido profundo de um verso
Fala a língua dos teus gestos
Em convulsões gramaticais
Poemas recatados na tua pele sem pecado
Poemas de navalha no teu corpo sem perdão
A figura de linguagem do desejo
Fala a língua do meu beijo
Sem tradução
22 de setembro de 2011
Bertolt Brecht
O uso das palavras obscenas
Desmedido eu que vivo com medida
Amigos, deixai-me que vos explique
Com grosseiras palavras vos fustigue
Como se aos milhares fossem nesta vida!
Há palavras que a foder dão euforia:
Para o fodidor, foda é palavra louca
E se a palavra traz sempre na boca
Qualquer colchão furado o alivia.
O puro fodilhão é de enforcar!
Se ela o der até se esvaziar: bem.
Maré não lava o que a arvore retém!
Só não façam lavagem ao juizo!
Do homem a arte é: foder e pensar.
(Mas o luxo do homem é: o riso).
Desmedido eu que vivo com medida
Amigos, deixai-me que vos explique
Com grosseiras palavras vos fustigue
Como se aos milhares fossem nesta vida!
Há palavras que a foder dão euforia:
Para o fodidor, foda é palavra louca
E se a palavra traz sempre na boca
Qualquer colchão furado o alivia.
O puro fodilhão é de enforcar!
Se ela o der até se esvaziar: bem.
Maré não lava o que a arvore retém!
Só não façam lavagem ao juizo!
Do homem a arte é: foder e pensar.
(Mas o luxo do homem é: o riso).
Bráulio Tavares
Poema da buceta cabeluda
A buceta da minha amada
tem pêlos barrocos,
lúdicos, profanos.
É faminta
como o polígono-das-secas
e cheia de ritmos
como o recôncavo-baiano.
A buceta da minha amada
é cabeluda
como um tapete persa.
É um buraco-negro
bem no meio do púbis
do Universo.
A buceta da minha amada
é cabeluda,
misteriosa, sonâmbula.
É bela como uma letra grega:
é o alfa-e-ômega dos meus segredos,
é um delta ardente sob os meus dedos
e na minha língua
é lambida.
A buceta da minha amada
é um tesouro
é o Tosão de Ouro
é um tesão.
É cabeluda, e cabe, linda,
em minha mão.
A buceta da minha amada
me aperta dentro, de um tal jeito
que quase me morde;
e só não é mais cabeluda
do que as coisas que ela geme
quando a gente fode.
A buceta da minha amada
tem pêlos barrocos,
lúdicos, profanos.
É faminta
como o polígono-das-secas
e cheia de ritmos
como o recôncavo-baiano.
A buceta da minha amada
é cabeluda
como um tapete persa.
É um buraco-negro
bem no meio do púbis
do Universo.
A buceta da minha amada
é cabeluda,
misteriosa, sonâmbula.
É bela como uma letra grega:
é o alfa-e-ômega dos meus segredos,
é um delta ardente sob os meus dedos
e na minha língua
é lambida.
A buceta da minha amada
é um tesouro
é o Tosão de Ouro
é um tesão.
É cabeluda, e cabe, linda,
em minha mão.
A buceta da minha amada
me aperta dentro, de um tal jeito
que quase me morde;
e só não é mais cabeluda
do que as coisas que ela geme
quando a gente fode.
Waly Salomão
Exterior
Por que a poesia tem que se confinar?
às paredes de dentro da vulva do poema?
Por que proibir à poesia
estourar os limites do grelo
da greta
da gruta
e se espraiar além da grade
do sol nascido quadrado?
Por que a poesia tem que se sustentar
de pé, cartesiana milícia enfileirada,
obediente filha da pauta?
Por que a poesia não pode ficar de quatro
e se agachar e se esgueirar
para gozar
– carpe diem! –
fora da zona da página?
Por que a poesia de rabo preso
sem poder se operar
e, operada,
polimórfica e perversa,
não pode travestir-se
com os clitóris e balangandãs da lira?
Por que a poesia tem que se confinar?
às paredes de dentro da vulva do poema?
Por que proibir à poesia
estourar os limites do grelo
da greta
da gruta
e se espraiar além da grade
do sol nascido quadrado?
Por que a poesia tem que se sustentar
de pé, cartesiana milícia enfileirada,
obediente filha da pauta?
Por que a poesia não pode ficar de quatro
e se agachar e se esgueirar
para gozar
– carpe diem! –
fora da zona da página?
Por que a poesia de rabo preso
sem poder se operar
e, operada,
polimórfica e perversa,
não pode travestir-se
com os clitóris e balangandãs da lira?
E.M. de Melo e Castro
Enquanto um dedo esmaga
enquanto um dedo esmaga
uma curva ou um aro
outros dedos distendem
os tendões que entendem
no súbito na água
a luz vértice faro
os membros que se fendem
lábios que dizem rendem
quem diz cu diz a cona
em masculino estilo
as procuradas fendas afluentes
que no homem se excluem
na fêmea se completam
delta logo de lagos mijo nilo
*
Orgassema
de semântica sêmea
se insinua o sêmen
na lacona lagoa lacunar
e da sádica sede se ressente
o sentido
no sentido cunar.
se sádica ou sábia
quem o saberá?
Se salubre salgado
o teu sabor a odre
é a onda do útero
é terra que remorde
a espera de esperma
nas ásperas paredes.
e o significado vem
da fricção rítmica e formal
entre as mucosas rubras
do pênis, da vulva, da boca
ou da anal.
*
Cometa
cometa
meta no cu
a treta
da baioneta
na teta
ponha o peru
na
porra preta
punheta
meta no cu
o cometa
enquanto um dedo esmaga
uma curva ou um aro
outros dedos distendem
os tendões que entendem
no súbito na água
a luz vértice faro
os membros que se fendem
lábios que dizem rendem
quem diz cu diz a cona
em masculino estilo
as procuradas fendas afluentes
que no homem se excluem
na fêmea se completam
delta logo de lagos mijo nilo
*
Orgassema
de semântica sêmea
se insinua o sêmen
na lacona lagoa lacunar
e da sádica sede se ressente
o sentido
no sentido cunar.
se sádica ou sábia
quem o saberá?
Se salubre salgado
o teu sabor a odre
é a onda do útero
é terra que remorde
a espera de esperma
nas ásperas paredes.
e o significado vem
da fricção rítmica e formal
entre as mucosas rubras
do pênis, da vulva, da boca
ou da anal.
*
Cometa
cometa
meta no cu
a treta
da baioneta
na teta
ponha o peru
na
porra preta
punheta
meta no cu
o cometa
21 de setembro de 2011
Allen Ginsberg
Poema de amor sobre um tema de Whitman
Entrarei silencioso no quarto de dormir e me deitarei
entre noivo e noiva,
esses corpos caídos do céu esperando nus em sobressalto,
braços pousados sobre os olhos na escuridão,
afundarei minha cara em seus ombros e seios, respirarei tua pele
e acariciarei e beijarei a nuca e a boca e mostrarei seu traseiro,
pernas erguidas e dobradas para receber,
caralho atormentado na escuridão, atacando,
levantado do buraco até a cabeça pulsante,
corpos entrelaçados nus e trêmulos,
coxas quentes e nádegas enfiadas uma na outra
e os olhos, olhos cintilando encantadores,
abrindo-se em olhares e abandono,
e os gemidos do movimento, vozes, mãos no ar, mãos entre as coxas,
mãos, na umidade de macios quadris, palpitante contração de ventres
até que o branco venha jorrar no turbilhão dos lençóis
e a noiva grite pedindo perdão
e o noivo se cubra de lágrimas de paixão e compaixão
e eu me erga da cama saciado de últimos gestos íntimos
e beijos de adeus –
tudo isso antes que a mente desperte,
atrás das cortinas e portas fechadas da casa escurecida
cujos habitantes perambulam insatisfeitos pela noite,
fantasmas desnudos buscando-se no silêncio.
Entrarei silencioso no quarto de dormir e me deitarei
entre noivo e noiva,
esses corpos caídos do céu esperando nus em sobressalto,
braços pousados sobre os olhos na escuridão,
afundarei minha cara em seus ombros e seios, respirarei tua pele
e acariciarei e beijarei a nuca e a boca e mostrarei seu traseiro,
pernas erguidas e dobradas para receber,
caralho atormentado na escuridão, atacando,
levantado do buraco até a cabeça pulsante,
corpos entrelaçados nus e trêmulos,
coxas quentes e nádegas enfiadas uma na outra
e os olhos, olhos cintilando encantadores,
abrindo-se em olhares e abandono,
e os gemidos do movimento, vozes, mãos no ar, mãos entre as coxas,
mãos, na umidade de macios quadris, palpitante contração de ventres
até que o branco venha jorrar no turbilhão dos lençóis
e a noiva grite pedindo perdão
e o noivo se cubra de lágrimas de paixão e compaixão
e eu me erga da cama saciado de últimos gestos íntimos
e beijos de adeus –
tudo isso antes que a mente desperte,
atrás das cortinas e portas fechadas da casa escurecida
cujos habitantes perambulam insatisfeitos pela noite,
fantasmas desnudos buscando-se no silêncio.
Augusto dos Anjos
O lupanar
Ah! Por que monstruosíssimo motivo
Prenderam para sempre, nesta rede,
Dentro do ângulo diedro da parede,
A alma do homem polígamo e lascivo?!
Este lugar, moços do mundo, vêde:
É o grande bebedouro colectivo,
Onde os bandalhos, como um gado vivo,
Todas as noites, vêm matar a sede!
É o afrodístico leito do hetairismo,
A antecâmara lúbrica do abismo,
Em que é mister que o gênero humano entre,
Quando a promiscuidade aterradora
Matar a última força geradora
E comer o último óvulo do ventre!
*
Volúpia Imortal
Cuidas que o genesíaco prazer,
Fome do átomo e eurítmico transporte
De todas as moléculas, aborte
Na hora em que a nossa carne apodrecer?!
Não! Essa luz radial, em que arde o Ser,
Para a perpetuação da Espécie forte,
Tragicamente, ainda depois da morte,
Dentro dos ossos, continua a arder!
Surdos destarte a apóstrofes e brados,
Os nossos esqueletos descamados,
Em convulsivas contorções sensuais,
Haurindo o gás sulfídrico das covas,
Com essa volúpia das ossadas novas
Hão de ainda se apertar cada vez mais!
Ah! Por que monstruosíssimo motivo
Prenderam para sempre, nesta rede,
Dentro do ângulo diedro da parede,
A alma do homem polígamo e lascivo?!
Este lugar, moços do mundo, vêde:
É o grande bebedouro colectivo,
Onde os bandalhos, como um gado vivo,
Todas as noites, vêm matar a sede!
É o afrodístico leito do hetairismo,
A antecâmara lúbrica do abismo,
Em que é mister que o gênero humano entre,
Quando a promiscuidade aterradora
Matar a última força geradora
E comer o último óvulo do ventre!
*
Volúpia Imortal
Cuidas que o genesíaco prazer,
Fome do átomo e eurítmico transporte
De todas as moléculas, aborte
Na hora em que a nossa carne apodrecer?!
Não! Essa luz radial, em que arde o Ser,
Para a perpetuação da Espécie forte,
Tragicamente, ainda depois da morte,
Dentro dos ossos, continua a arder!
Surdos destarte a apóstrofes e brados,
Os nossos esqueletos descamados,
Em convulsivas contorções sensuais,
Haurindo o gás sulfídrico das covas,
Com essa volúpia das ossadas novas
Hão de ainda se apertar cada vez mais!
Arnaldo Antunes
O Tato
O olho enxerga o que deseja e o que não
Ouvido ouve o que deseja e o que não
O pinto duro pulsa forte como um coração
Trepar é o melhor remédio pra tesão
Um terço é muita penitência pra masturbação
A grávida não tem saudades da menstruação
Se não consegue fazer sexo vê televisão
Manteiga não se usa apenas pra passar no pão
Boceta não é cu mas ambos são palavrão
Gozo não significa ejaculação
O tato mais experiente é a palma da mão
O olho enxerga o que deseja e o que não
Ouvido ouve o que deseja e o que não
Depois de ejacular espera por outra ereção
O ânus precisa de mais lubrificação
Por mais que se reprima nunca seca a secreção
O corpo não é templo, casa nem prisão
Uns comem outros fodem uns cometem outros dão
Por graça por esporte ou tara por amor ou não
Velocidade se controla com respiração
O pau se aprofunda mais conforme a posição
O tato mais experiente é a palma da mão
O olho enxerga o que deseja e o que não
Ouvido ouve o que deseja e o que não
O pinto duro pulsa forte como um coração
Trepar é o melhor remédio pra tesão
Um terço é muita penitência pra masturbação
A grávida não tem saudades da menstruação
Se não consegue fazer sexo vê televisão
Manteiga não se usa apenas pra passar no pão
Boceta não é cu mas ambos são palavrão
Gozo não significa ejaculação
O tato mais experiente é a palma da mão
O olho enxerga o que deseja e o que não
Ouvido ouve o que deseja e o que não
Depois de ejacular espera por outra ereção
O ânus precisa de mais lubrificação
Por mais que se reprima nunca seca a secreção
O corpo não é templo, casa nem prisão
Uns comem outros fodem uns cometem outros dão
Por graça por esporte ou tara por amor ou não
Velocidade se controla com respiração
O pau se aprofunda mais conforme a posição
O tato mais experiente é a palma da mão
Manuel Maria Barbosa du Bocage
Lá quando em mim perder a humanidade
Lá quando em mim perder a humanidade
Mais um daqueles, que não fazem falta,
Verbi-gratia – o teólogo, o peralta,
Algum duque, ou marquês, ou conde, ou frade:
Não quero funeral comunidade,
que engrole sob-venites em voz alta;
Pingados gatarrões, gente de malta,
Eu também vos dispenso a caridade:
Mas quando ferrugenta enxada idosa
Sepulcro me cavar em ermo outeiro,
Lavre-me este epitáfio mão piedosa:
"Aqui dorme Bocage, o putanheiro:
Passou a vida folgada, e milagrosa:
Comeu, bebeu, fodeu sem ter dinheiro."
Lá quando em mim perder a humanidade
Mais um daqueles, que não fazem falta,
Verbi-gratia – o teólogo, o peralta,
Algum duque, ou marquês, ou conde, ou frade:
Não quero funeral comunidade,
que engrole sob-venites em voz alta;
Pingados gatarrões, gente de malta,
Eu também vos dispenso a caridade:
Mas quando ferrugenta enxada idosa
Sepulcro me cavar em ermo outeiro,
Lavre-me este epitáfio mão piedosa:
"Aqui dorme Bocage, o putanheiro:
Passou a vida folgada, e milagrosa:
Comeu, bebeu, fodeu sem ter dinheiro."
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